Uma história de desafios e superações Mauro Aparecido de Paula Ferreira

Meu nome é Mauro Ferreira, sou empresário há 37 anos, minha empresa se chama Globo Usinagem. A Globo presta serviços de usinagem para a Embraer e atua no setor de óleo e gás. Fazemos exportações e temos uma grande habilidade na compra de matéria-prima nacional e importada.

Nasci em Santo André no ano de 1959, sou o sexto filho dos nove que minha mãe teve. Sou casado, tenho três filhos e duas netas e tenho outro neto a caminho. Tive uma infância agradável e feliz, não deixei me abater por acontecimentos inesperados, brincava como todas as crianças de minha época, com brincadeiras saudáveis e divertidas, que hoje representam saudade de um tempo a que só é possível voltar em nossas memórias.

Minha família era pobre, mas nunca se entregou a pensamentos negativos; por esse motivo, havia alegria, motivação e exemplo na minha casa. Quando eu tinha sete anos de idade, meu pai sofreu um AVC, talvez por excesso de bebida, e ficou doze anos em uma cama sem falar e andar, mexia só o braço esquerdo para pedir alguma coisa. 

Éramos todos menores de idade quando meu pai adoeceu, por isso fomos trabalhar para ajudar a família. Fui engraxar sapatos, e minha mãe, vender flores artificiais, além disso ela tinha a dura rotina de todas as manhãs: tirar meu pai da cama, colocar o velho no sofá, dar comida em sua boca e só então sair para realizar suas vendas. Quando retornava na hora do almoço, preparava uma comida simples mas gostosa e, novamente, dava na boca de meu pai e voltava para a labuta.

Com o passar do tempo fomos crescendo e meus irmãos arrumaram empregos, permitindo a nossa mãe cuidar da casa em tempo integral. Quando voltávamos do trabalho a alegrávamos com histórias engraçadas, algumas piadas, até uma dancinha a gente fazia. Nossa alegria superava as dificuldades.

Minha mãe não sabia ler nem escrever, mas tinha uma percepção muito boa da vida. Seus conselhos eram sempre para não colocar bebida alcoólica na boca, andar em boas companhias, respeitar as pessoas, ter juízo e guardar uma parte do salário para ficar tranquilo no futuro. Ela pegava uma boa parte de meu ganho e me devolvia um pouco, com a promessa de que eu guardaria, e eu seguia sempre suas instruções.

Quando fiz vinte e cinco anos, tinha terminado o colegial, hoje Ensino Médio, fiquei sem rumo sobre o que faria de minha vida. Tinha um emprego de torneiro mecânico graças ao curso que fiz no SENAI, mas não era bem remunerado, trabalhava numa empresa pequena com seis colaboradores, sem perspectivas de crescimento.

Um dia toda a minha vida mudou. Havia um lugar no bairro onde eu e meus amigos nos reuníamos todas as noites de final de semana para jogar conversa fora. Um de meus amigos, que também participava dessas conversas e era pobre como eu, do nada me convidou para abrirmos uma empresa, um convite maluco a princípio. A história é longa, mas vou pular vários capítulos. A probabilidade de algo desse tipo dar certo era mil para um: não tínhamos dinheiro, não sabíamos nada do mundo dos negócios, éramos dois trabalhadores da indústria que sonhavam apenas com a aposentadoria. Passados alguns meses de nossa conversa, resolvi aceitar o desafio. Nem sei por que aceitei.

Eu tinha, na época, uma quantia de sete salários mínimos guardados na poupança, que minha mãe havia me orientado a fazer, meu amigo arrumou a outra parte. A ideia era usar uma garagem da família do Gilberto, hoje meu sócio na empresa.

Partimos para a rua Piratininga no Brás, em São Paulo, para comprar as máquinas já usadas pelas indústrias. Compramos o pior torno que havia na loja. Voltamos para nossa cidade carregando um torno Imor, sem dinheiro no bolso, sem clientes e sem instrução, mas com a consciência de que a história teria que ser escrita por nós. Vou novamente pular várias etapas de nossa luta.

Após um ano de muitas dificuldades, estávamos crescendo. Chamamos um outro amigo para nos ajudar e com isso o serviço foi entrando, porém a competitividade era muito grande e não dava para ganhar dinheiro, só tínhamos dívidas para pagar.

Um dia recebi em nossa empresa uma pessoa que trabalhava para um concorrente. Era um vendedor muito bom, notei, e por isso chamei para trabalhar conosco. Ele aceitou. Depois de algum tempo vendo sua capacidade para o negócio, dei a ele uma missão impossível: queria que nossa empresa fosse fornecedora da Embraer. Aceitou o desafio e, numa tacada de mestre, nos colocou lá dentro.

Para resumir e mostrar que o impossível pode acontecer, fomos reprovados na primeira visita. A empresa não era apresentável, havia infiltração de água nas paredes, um emaranhado de fios por todos os lados. Depois de sermos reprovados, o vendedor convidou o pessoal da Embraer para almoçar. Na volta do almoço ele viu um galpão bonito e disse que a empresa iria se mudar para lá em breve, tinha esquecido de mencionar. O galpão estava aberto e havia algumas pessoas pintando o prédio. Realmente o local estava sendo pintado para locação. Com isso, os auditores da Embraer disseram que a empresa estava aprovada.

Não podemos desistir no primeiro não, as palavras e as ações certas trazem resultados. Imagine a satisfação de termos essa conceituada empresa como cliente! Começamos a investir em pessoas, máquinas mais modernas, mas os resultados financeiros não apareciam. Mudamos a empresa para São José dos Campos para ficar mais próxima da Embraer. Foi para lá uma equipe estratégica, e com isso os resultados começaram a aparecer.

Quando tudo estava começando a entrar nos eixos, veio a queda das Torres gêmeas, no episódio do dia 11 de setembro de 2001. Pensei que fosse o nosso fim. Conseguimos nos levantar novamente. Descobri então que estava na verdadeira escola do empreendedorismo, onde a teoria e a prática não se conversam.

Formei-me em Administração, fiz MBA em gestão empresarial na FGV, mas a escola mais importante de minha vida foram a experiência e os desafios do dia a dia. A vida do empreendedor no Brasil é adrenalina pura. Fui ao fundo do poço por algumas vezes, mas sempre consegui sair. Nesses altos e baixos de minha vida de empresário cheguei à triste situação de ser o pior fornecedor da Embraer. Conseguimos recuperar a excelência, e hoje tenho orgulho em dizer que temos oito prêmios como o melhor fornecedor de usinagem. Além da matriz da Globo Usinagem em São José dos Campos, temos uma filial na cidade de Botucatu (SP).

Como consegui me recuperar? 

Mudança de estratégia: comecei a investir nas pessoas, e contratei profissionais formados em escolas de ponta. Máquinas e equipamentos existem à venda e são iguais em qualquer empresa, mas são as pessoas que fazem a diferença. Não basta treiná-las, elas precisam estar no lugar onde se sentem bem e dão resultados.

Hoje me sinto feliz por chegar aonde cheguei, vencendo todas as adversidades que há no mundo do empreendedorismo. Tenho grande satisfação de ter proporcionado para minha mãe uma vida melhor e de ver seu orgulho com minhas vitórias.

Hoje faço parte do INVOZ, onde todos os participantes semeiam a semente do conhecimento e compartilham suas experiências, transformando em ações para melhorar a vida da sociedade e divulgar a cultura aeroespacial. 

Para terminar, posso deixar sete conselhos para vencer na vida: 

  • Tenha humildade no seu coração. 
  • Nunca pare de buscar o conhecimento. 
  • Invista em seu colaborador sem medo de perdê-lo. 
  • Semeie a boa semente. 
  • Pratique a generosidade. 
  • Desfrute a vida e coma do fruto de seu trabalho. 
  • Seja grato a Deus por tudo. 
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