O especialista em Manutençao de Aeronaves Spiridon Aziz Araman completa 80 anos de vida hoje (15/02). Nascido em Beirute em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Spiridon é de uma família libanesa de classe média. “O meu pai sempre quiz me proporcionar a educação que ele não conseguiu ter”, lembra.
Jovem, entrou para o tradicional Colégio Internacional, onde fez a Educação Secundária, ainda no Líbano, na instituição que foi fundada em 1891. Depois, se mudou para a Escócia quando tinha 18 anos. Lá, formou-se em Manutenção de Aeronaves. Voltou a Beirute e trabalhou na Middle East Airlines do Oriente Médio (MEA), entre 1963 e 1976. Após o início da Guerra Civil, que durou 15 anos naquele país, Araman imigrou para o Brasil.
Spiro, como é conhecido pelos mais próximos, ingressou no setor de assistência técnica da Embraer em 1977. Apoiou o EMB 110 Bandeirante vendido para a Escócia e depois vieram as outras aeronaves em Fiji, na Oceania; e os aviões Xingus, na Bélgica. “Eu compartilhei mesa com ele quando regressou de Fiji. Dividíamos o lanche. Sempre foi uma pessoa muito agradável”, conta Marilda Bastos, diretora de Eventos do INVOZ, que trabalhou por 17 anos na Embraer.
Em 1982, Spiridon Aziz Araman entrou na Pratt & Whitney, onde ficou até o ano 2000, atuando na Jordânia, Portugal e Brasil também. A facilidade com idiomas – ele fala árabe, francês, inglês e português – o ajudou. Spiro é casado com Tânia Maria Maluf Araman que, como ele, veio de uma família de origem libanesa.
Chegou ao Brasil já com a esposa. Os dois eram reconhecidos pelos amigos como “pares perfeitos”. Quando a Embraer vendia aviões para fora do país, era preciso alguém que cuidasse da assistência técnica como residente no local, por meses. E Spiro fazia este trabalho, mudando com Tânia, sem dificuldade, para onde o enviassem. Ela sempre o apoiava e, ao mesmo tempo, se interessava pelo trabalho.
Alegre, apesar das guerras
Araman e seu irmão gêmeo tinham, então, cinco meses de vida quando a Campanha da Síria-Líbano terminou, em 1941. A operação militar ficou conhecida como Exporter. Reunia tropas aliadas para proteger os dois países, na época dominados pela França de Vichy, que era a chamada zona livre da ocupação alemã.
A ofensiva aliada foi planejada com o objetivo de impedir a Alemanha nazista de usar a República Síria e o Líbano como trampolins para atacar o Egito. Neste mesmo período, as forças do Eixo lutavam em campanha mais a oeste, no norte da África.
Décadas mais tarde, a Guerra Civil do Líbano eclodiu, em 1975, com enfrentamentos e massacres entre as comunidades religiosas. Houve ainda uma intervenção síria a pedido do Parlamento Libanês. Mais de 150 mil pessoas morreram durante o conflito.
Foi neste período que Araman, já com mais de 30 anos, imigrou para o Brasil, após a especialização em Manutenção de Aeronaves na Escócia, deixando um trabalho que adorava na MEA. “Sou muito grato ao coronel e engenheiro Ozires Silva (fundador da Embraer) que foi quem olhou o meu currículo, em 1976. Ele enxergou que esse recém-chegado, sem falar português fluente, tinha algo a oferecer para a Embraer”, conta Spiridon Aziz Araman.
O engenheiro mecânico pela PUC do Rio de Janeiro, Paulo de Machado e Silva Furtado, era assessor do gerente de assistência técnica da Embraer quando Spiro entrou na empresa. Eles trabalhavam juntos e ainda hoje mantém a amizade. “Nos vemos pouco, mas quando nos encontramos é uma festa. A imagem que eu tenho dele é de uma pessoa alegre, colaborativa, bom relacionamento, para a vida toda”, diz Furtado.
Segundo o engenheiro, o contato de Spiro com estes conflitos no Líbano foi muito traumático. Os pais se recusaram a deixar Beirute, o irmão estava na Suíça onde trabalhava e ele vivia a angústia de saber de um conflito armado em que o pai e a mãe estariam presentes. “As guerras poderiam tê-lo feito uma pessoa amarga, mas não. Sempre teve muita facilidade de relacionamento, encantava os clientes e amigos; é da natureza dele”, diz. E completa: Spiro é uma pessoa muito fiel a sua origem libanesa.
Maverick e churrasco de cebola
“Como ele era muito experiente, dávamos uma tarefa que imaginávamos que demoraria um mês para ser concluída. Ele levava apenas uma semana”, diz Furtado. Era frequente a Embraer receber cartas e elogios sobre o trabalho de Spiro, que não é engenheiro de formação, mas é considerado como tal pelos seus pares.
Quando foi designado para um trabalho nas Ilhas Fiji, a Embraer concordou em guardar o Maverick dele junto com os carros da companhia. E, periodicamente, o automóvel era ligado. Dava-se “uma esticada” com ele pela Rodovia Presidente Dutra para mantê-lo funcionando bem. “O Maverick era o xodó de Spiro”, conta Furtado.
O engenheiro Carlos Alberto Molina também conviveu com Spiridon Aziz Araman na Embraer e diz que ele tem uma formação muito forte e foi extremamente valioso para empresa, sobretudo no início da companhia. “Ele é um cara muito calmo, muito capaz, paciente. A equipe era jovem – Molina tinha 29 anos quando o conheceu -, com energia de querer fazer tudo, correr de um lado para o outro. Ele colocava a gente na proa”.
Quando a Embraer vendeu cinco aviões Xingu para a Força Aérea Belga, nos anos 80, Spiro passou seis meses lá. Ele inclusive traduziu os documentos da aeronave para o francês belga, idioma que fala com fluência. Spiridon Aziz Araman foi, muitas vezes, a face da Embraer no pós-venda de aviões. “Ele nunca foi meu chefe, mas é sim um amigo. Fazíamos churrasco de cebola e café árabe quando ele estava em minha casa. Tenho boas lembranças. Fico satisfeito que ele esteja bem, com seus 80 anos”, conclui.