Eu nasci em Bauru, no interior de São Paulo. Era uma cidade relativamente importante naquele Brasil de 1930, 1935. Não tínhamos nenhuma faculdade, mas havia uma escola que era absolutamente diferenciada. E nessa escola, chegou um diretor de São Paulo, o professor Cabral. Ele trouxe vários outros professores de São Paulo. Eles eram extraordinários e mudaram a minha vida, me transformaram.
Eu cheguei a fazer uma composição (redação) em latim! Você pode imaginar isso para um moleque de 9, 10 anos, coisa deste tipo? E esse foi o pontapé inicial. Eu ía para o ginásio e, numa esquina, tinha uma vitrine de loja. O dono colocou uma placa que dizia: aqueles que não pararam avançaram tanto que jamais poderão ser alcançados. Eu parei naquela placa…olha…sinceramente eu acho que fiquei uns 15 minutos lendo a placa. Você veja, então, que havia uma atmosfera de mudanças e a gente estava sentindo. Talvez nós não soubéssemos nem expressar o que era.
O dono colocou uma placa que dizia: aqueles que não pararam avançaram tanto que jamais poderão ser alcançados.
Por outro lado, eu comecei a frequentar o Aeroclube de Bauru. E no aeroclube, tinha um suíço que trabalhava na Alemanha. Quando a guerra rompeu, em 1939, ele fugiu de lá e acabou indo para o Aeroclube de Bauru. E ele começou a colocar nas nossas cabeças a palavra tecnologia. Naquela época, nunca tinha ouvido falar dela.
Tecnologia não se falava, mas ele chamava a atenção para as maravilhosas invenções e soluções técnicas que os aviões antigos tinham para poder voar. Falava em estabilidade, controle, manobrabilidade, performance, consumo, as potências de motores, soluções para a nova partida. Não existia partida elétrica nos aviões, tinha que dar na hélice. E tudo isso foi mostrando para nós que aquilo ía sendo criado por pessoas.
Eu estava lá voando planador, mas na realidade eu comecei a lutar para ser engenheiro aeronáutico.
E foi aí que nasceu a minha vontade de trabalhar com aviões. Eu queria ser piloto, evidentemente. Eu estava lá voando planador, mas na realidade eu comecei a lutar para ser engenheiro aeronáutico. Eu e um colega meu. Nós, juntos, começamos a pensar em como nós planejamos nossa carreira. Já imaginou, um jovem de 13, 14, 15 anos planejando o futuro, né? E nós planejamos esse futuro sendo engenheiros aeronáuticos. Por uma razão qualquer, nós paramos nos anos 2000. Nós achávamos que naquele ano talvez nós não estivéssemos vivos, né? (risos)
Já imaginou, um jovem de 13, 14, 15 anos planejando o futuro, né?
Então, eu digo que a cidade tem que ser sábia. Abrir a educação para todas as oportunidades para que todos possam galgar o que eu chamo de escada da vida. O próprio alemão que estava lá conosco dizia que a vida é uma escada com muitos degraus. Às vezes, com degraus muito altos. Ele falou: “Eu não conheço nenhum que tenha subido a escada pelo último degrau”. Tem que subir a escada a partir do primeiro degrau, colocando esforço, energia, determinação, vontade e assim por diante.