Luís Carlos Affonso liderou o projeto dos EJets e é um dos responsáveis pelo início da aviação executiva na Embraer

Na história da indústria aeronáutica brasileira, no conjunto de profissionais voltados ao desenvolvimento da área, alguns se destacaram pelo protagonismo, competência e empenho irrestrito. Entre eles, está Luís Carlos Affonso, atual vice-presidente de Engenharia e Estratégia Corporativa da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica).  

Há quase 40 anos trabalhando na companhia, ele ocupa cargos importantes de liderança desde os 34 anos de idade, quando se tornou Diretor de Engenharia e engenheiro-chefe. “O Luís foi o cara que tocou muitos projetos importantes da empresa e liderou a criação da Unidade de Negócios da Aviação Executiva”, afirma Emílio Matsuo, ex-vice-presidente de Engenharia da Embraer. 

Matsuo cita que vários modelos de aeronaves da Embraer foram desenvolvidas e viabilizadas sob a liderança de Luís Carlos. Desde o início de 1995, quando assumiu a diretoria de engenharia e conduziu o ERJ145 ao seu primeiro voo e certificação, ele teve sob sua responsabilidade todos os desenvolvimentos de aeronaves comerciais e executivas da Embraer até a presente data. Entre o rol de aviões de sucesso, também está o 195E2, o maior avião comercial fabricado no país. “Nessas décadas de trabalho, tive muitas oportunidades, mas talvez o maior desafio e realização tenha sido o desenvolvimento da família Embraer 170-190, os EJets, maior sucesso comercial da Embraer”, conta Luís Carlos. 

O vice-presidente é modesto ao relatar seus feitos na empresa e ressalta a importância do papel da equipe. “O trabalho sempre foi de equipe. Acaba que alguém tem que liderar, mas ao falarmos em projetar aviões, o trabalho deve ser conjunto, e nós temos profissionais com muita competência, criatividade e uma garra e resiliência únicas na indústria”, lembra. 

O início de tudo  

A paixão pela aeronáutica começou ainda na infância. “Sempre gostei de aviões, desde desenhá-los quando ainda era criança até escrever sobre eles. Aos 10 anos, fiz uma redação falando que queria projetar aviões e, por isso, teria que fazer o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Eu queria ser engenheiro-piloto. Tive a sorte de ter pais que prezavam muito pela educação escolar. Na época, estudávamos em escolas públicas em São Paulo, e meu pai cuidou para que frequentássemos instituições muito boas”, conta Affonso. 

Filho do meio entre três irmãos, todos homens, Luís Carlos lembra um pouco de sua trajetória na escola. “Começamos no Instituto de Educação Caetano de Campos, seguido do Colégio Estadual São Paulo, e depois, no colegial, fomos bolsistas no Colégio Bandeirantes. Eu e meu irmão mais velho pendíamos para as exatas. Sempre tive essa paixão por pilotar, mas usava óculos desde a adolescência, então a possibilidade de ser piloto de caça não existia. A meta então era entrar no ITA”, diz.  

Uma vez formado na Turma 82 do ITA, a Embraer não era a única opção de carreira. “Naquela época, a Embraer ainda era uma empresa estatal e relativamente pequena. A paixão pelos aviões acabou me fazendo decidir pela Embraer, mas pensava ‘vou ficar dois ou três anos e depois eu decido’. Aí os desafios e projetos se sucederam e já se passaram 39 anos!”, conta. 

Volta ao Brasil e carreira na Embraer  

Após a formatura e um ano como trainee na França, Luís Carlos retornou ao Brasil em janeiro de 1984. Logo após sua chegada, foi designado para liderar e tentar resolver os problemas que o “Brasília” (avião da época) apresentava na área do sistema de trem de pouso. “Em função disso, desde muito novo, pude conviver e aprender com o grupo de liderança da Embraer. O ‘Brasília’ estava em plena campanha de ensaios em voo, mas o sistema de trem de pouso precisava ser completamente reprojetado. Tive o privilégio de participar todos os dias do Bom dia Brasilia liderado pelo Guido Pessotti, junto com muitas feras como José Renato, Masao, Satoshi, Paulo Serra, Aldo Martinazzo entre outros. Foi uma tremenda escola”, conta. 

O projeto de Luís Carlos foi um sucesso e, cada vez mais, seu nome era considerado para novos desafios na Embraer. Assim que a empresa foi privatizada, em 1994, Affonso foi escolhido para ser o gestor de Engenharia e engenheiro-chefe, aos 34 anos. “Tinha muitos outros colegas bem mais experientes e fiquei com receio de como seria recebido, mas fui muito bem acolhido por todos e foi muito bacana. Eles falaram ‘olha, Luís, a gente acha que você é o cara que tem mais condições de desempenhar esse papel e nós vamos te apoiar’. Aí é claro que fiquei mais tranquilo”, diz.

Família, hobbies e amigos 

Por incrível que pareça, Luís Carlos conseguiu arrumar um tempo livre para seguir outro sonho que carrega desde a infância: ser aviador. Começou a voar em planadores ainda durante a faculdade e participar de campeonatos, mas, com o nascimento dos filhos, conta que não conseguiu conciliar tudo ao mesmo tempo. “Quando meus filhos eram pequenos, eu tinha três focos: trabalhava na Embraer, cuidava da família e pilotava planadores. Eu tive gêmeos, e foi aí que parei de voar, porque só dava tempo para duas das três coisas”, conta, rindo. 

Ainda assim, Luís Carlos não desistiu de seu sonho. “Quando os filhos fizeram 20 anos, voltei às competições e consegui ser campeão brasileiro duas vezes na categoria Racing, em 2019 e 2020. Em 2019, fui campeão em Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, e em 2020, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia”, explica. Ele também se aperfeiçoou na pilotagem de aviões, sendo qualificado para voos de multimotores e por instrumentos, tendo as carteiras dos jatos PHENOM 100 e 300 da Embraer. 

Querido por onde passa, Luís Carlos conquistou o respeito e a admiração das pessoas. “Luís é um dos três caras mais inteligentes e empreendedores que já conheci. Cabeça rápida, visionário, realizador. Além da visão estratégica, leva a ideia para o resultado. Uma pessoa correta, idônea, que sempre vai estar lá para te ajudar. Se precisasse pedir algo para ele, tenho certeza de que estaria sempre à disposição”, finaliza Emílio Matsuo, colega de Affonso na Embraer, que virou amigo de longa data. 

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