A Embraer divulgou comunicado contestando as justificativas da empresa norte-americana Boeing para o cancelamento do contrato de USD 4,2 bilhões, em que pactuavam a compra da área de aviação comercial da companhia brasileira. O rompimento do Acordo Global da Operação (MTA) foi anunciado hoje, sábado (25), após as notícias de que isto estava sendo discutido internamente. A empresa brasileira diz que a Boeing fabricou “falsas alegações” como pretexto para tentar evitar seus compromissos de fechar a transação e pagar à Embraer o preço de compra.
“A empresa acredita que a Boeing adotou um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA, devido à falta de vontade em concluir a transação, sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação”, informa o comunicado. A Embraer afirma ainda que está em total conformidade com suas obrigações previstas no MTA e que cumpriu com todas as condições necessárias previstas até ontem.
Analistas do setor disseram que a Boeing dispunha de um grande estímulo para abandonar o negócio. “É uma questão de liquidez”, disse o analista Ron Epstein, do Bank of America Merrill Lynch. “Será que a Boeing está em condições de gastar US$ 4 bilhões em uma aquisição, em vista do que está acontecendo no mercado de aviação comercial como um todo?” – Financial Times
No comunicado, a Embraer também informa que vai buscar “todas as medidas cabíveis contra a Boeing pelos danos sofridos como resultado do cancelamento indevido e da violação do MTA”. O valor da multa, passaria de US$ 75 milhões (R$ 420 milhões no cambio desta sexta). No mercado, acredita-se que este também pode ser um dos motivos para rompimento do acordo, com alegações da Boeing de que a Embraer descumpriu sua parte do contrato.
A decisão do cancelamento, teve impactos no valor da empresa. A Embraer tinha ações cotadas nos EUA por R$ 109 no final de dezembro. Nesta sexta (24), quando as notícias sobre a possibilidade da não-concretização começaram a circular, fechou a R$ 32,50.
Cancelamento e problemas de liquidez
Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer e operações, disse em comunicado da empresa que trabalhou diligentemente nos últimos dois anos para concluir a transação. “Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas”.
Ron Epstein, analista do Bank of America Merril Lynch, sugeriu ao jornal Financial Times, em uma reportagem publicada ontem, que a Boeing não teria fôlego para investir este volume de dinheiro em uma aquisição, diante do momento sensível da empresa. “É uma questão de liquidez”, disse. Além dos acidentes com aviões e problemas com o 737 MAX, a crise do coronavírus paralisou as encomendas de novas aeronaves e também a maior parte das que já estavam em operação.
Na sexta-feira, o mercado já ventilava a possibilidade de a companhia americana abandonar o acordo, já que o prazo estabelecido para isto seria à meia-noite. Os reflexos nos preços das ações, que já vinham caindo, começaram a aumentar.