Neide e a colega de turma Cidoca, preparadas para a Fanfarra escolar em Cunha (Créditos: Arquivo pessoal)

Uma turbina na educação: conheça a trajetória de Neide Pereira em SJC

Nascida na zona rural de Cunha, ainda criança ela saiu de casa em busca dos estudos, até que após passar as férias em São José, um novo sonho surgiu: trabalhar na Embraer

Neide Pereira é uma das turbinas que impulsionam o voo da educação em São José dos Campos. Desde 2018, ela é presidente-executiva do Invoz (Integrando Vozes para o Futuro), associação de apoio a projetos da cultura, educação e empreendedorismo.

Na associação, ajuda a alavancar os projetos no pilar educação, como o curso de Usinagem Aeroespacial que é realizado em parceria com o SENAI, com o objetivo de formar mão de obra especializada para a indústria aeroespacial e a campanha Meu Primeiro Computador, em que notebooks e computadores são arrecadados para auxiliar estudantes do curso pré-vestibular coordenado por alunos do ITA, o Casd (Curso Santos Dummont).

Desenvolveu o Congresso Invoz de Educação, que já chegou à quinta edição na cidade e reúne professores e estudantes em debate sobre melhorias no setor, principalmente em escolas públicas. Instituições que trabalham pela causa e jovens que superaram dificuldades na área também participam.

Neide Pereira

Neide Pereira na 5ª edição Congresso Invoz em SJC (Créditos: Divulgação/ Invoz)

Engajada na causa, Neide reconhece que, se não fosse por esse caminho, sua vida não teria mudado:

“Eu me envolvo pessoalmente com o Invoz por achar que a educação é o principal para o desenvolvimento de um país e de uma cidade. E é uma honra para mim, eu nunca imaginei que chegaria onde eu cheguei, quando saí lá do sítio, da zona rural de Cunha, e vim morar em São José dos Campos”, diz.

Além de presidente da associação, ele é arquiteta, fundadora da Editora Somos, que acaba de lançar Gênio indomável, uma biografia do artista e designer José Ramis Melquizo (1939-2023), e já trabalhou na Embraer – seu grande sonho. Entre seus feitos estão ainda projetos arquitetônicos para a aviação na cidade, como o do primeiro Centro Histórico da Embraer, o Parque Aeroespacial do Sesi e a modernização do aeroporto.

Quem lê tantas virtudes, pode pensar que a sua vida foi regada de privilégios. Mas nem mesmo o fato de ser a caçula da família lhe concedia isso, afinal, eram seis irmãos.

Neide Pereira, presidente do INVOZ na infância

Neide Pereira na infância (Créditos: Arquivo pessoal)

“A  gente nunca teve vida muito mole, meu pai botava todo mundo para correr. O meu primeiro emprego já foi aos 7 anos de idade, quando eu fui trabalhar para o meu irmão, ajudava lá no curral a tirar o leite e depois ajudava minha cunhada na faxina. Nessa época,  já ganhei meu primeiro salário”, conta.

Morava em Cunha, onde nasceu, cresceu, trabalhava e nem escola tinha. Seu pai precisou construir uma ao lado da casa da família, legalizar na Prefeitura e levar a professora para morar com eles – talvez do berço tenha surgido tanta inspiração para lutar pela educação e o emprendedorismo. A escola existe até hoje, é a Escola Municipal do Ensino Fundamental do bairro Santa Cruz.

Totalmente por acaso

Aos 11 anos Neide decidiu buscar um novo rumo, indo morar na zona urbana para terminar os estudos, pois na escola do sítio o ensino era só até o quarto ano do fundamental.

Quando estava no segundo ano do ensino médio, foi passar as férias na roça, onde recebeu a visita de uma amiga, que junto da família viria para São José buscar por oportunidades de emprego e de estudo. Neide foi convidada e veio também, mas até então a intenção era só passear. Ficou hospedada em uma chácara no Putim e a cada vez que saia e voltava para o local, passava por seu grande sonho.

“A primeira vez que passei ali, em frente à Embraer, vi um Bandeirante na porta da empresa. Fiquei logo apaixonada pela aviação. Falei, nossa, aqui faz avião? Que maravilha, eu vou trabalhar nessa empresa um dia.”

A partir desse momento, comecei a procurar trabalho e escola, para que, eventualmente, eu mudasse para São José. No final da nossa visita e antes do retorno, a família não conseguiu nem escola, nem trabalho. Mas, por outro lado, eu consegui um emprego e também uma escola para fazer a transferência de Cunha para cá”, relembra Neide.

Recém-hegada na cidade, deu o próximo passo para realizar o sonho de embarcar na Embraer. Começou a trabalhar no Departamento de Física do CTA (Centro Tecnológico de Aeronáutica) e entrou para a faculdade de Física, em Taubaté. No meio do curso, percebeu que essa não era sua área.

Buscando amadurecer antes de escolher uma profissão definitiva, Neide entrou para um curso de secretariado e buscou estudar línguas. O que ela não sabia era que isso abriria as portas para seu grande sonho. Cinco anos depois, já trabalhando em uma grande empresa, toca o telefone e chega a melhor notícia: o convite para participar do processo seletivo de uma vaga de emprego temporária na Embraer.

Foi provada e aprovada, passando por entrevistas em português, inglês e até francês. Começou a trabalhar cobrindo por quatro meses a licença maternidade da secretária efetiva, que no fim do período, preferiu não voltar. Novamente Neide precisou passar por testes, sendo selecionada e dessa vez, contratada de forma fixa na empresa.

Vivendo um sonho

Vivendo o sonho de trabalhar na Embraer, Neide não parou por aí. Queria ir além e tentar uma graduação.

“Nessa época já me sentia madura para pensar em minha formação. Escolher a arquitetura foi prevalência do DNA de meu pai, que projetou e construiu muitas casas durante sua vida, mesmo nunca tendo estudado”, diz.

No meio do curso, já atuava em projetos da empresa. O primeiro foi o Centro Histórico da Embraer e, em seguida, o Parque Aeroespacial do Sesi Ozires Silva, em São José dis Campos. Ao se formar, Neide foi transferida para o setor de Engenharia de Fábrica, ficando responsável pelos projetos e manutenção dos prédio da Embraer, desenvolveu os layouts dos escritórios e dos hangares de produção de aeronaves.

Foram 15 anos na Embraer, quando uma crise na empresa mudou tudo e exigiu o pulsar da veia do empreendedorismo na mulher, que abriu a própria empresa de arquitetura e continuou prestando serviços para a fabricante de aeronaves.

Paralelo a isso, Neide fundou a Somos Editora, pela qual livros de diversos temas são publicados. Com o fim do contrato de arquitetura com a Embraer, veio o de literatura, para publicação de livros sobre aviação. Desde então, Neide leva a vida entre suas empresas e o trabalho voluntário, em prol do que lhe abriu tantas portas na vida: a educação.

Fonte: https://spriomais.com.br/2024/08/03/uma-turbina-na-educacao-conheca-a-trajetoria-de-neide-pereira-em-sjc/

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