O Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento e seus projetos pioneiros
Quando foi criado, na década de 50 do século passado, o agora denominado DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, localizado em São José dos Campos, SP, foram estabelecidos inicialmente dois institutos: o ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica e o IPD – Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento. O IPD foi a organização responsável pelo atual alto estágio da tecnologia aeronáutica no Brasil e fator primordial para a criação da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica.
A história do DCTA mostra que o reitor do ITA, Andrew Meyer , em dezembro de 1953, designou uma comissão para dar parecer sobre a conveniência de se criar um instituto de pesquisas, em paralelo ao ITA.
A partir de um parecer favorável, o Ministério da Aeronáutica reconheceu a importância de se preparar para ativar a futura indústria aeronáutica no país, criando, para isso, um instituto que fosse capaz de se encarregar da promoção e coordenação das atividades de pesquisas tecnológicas e desenvolvimento aeronáutico.
Assim, o segundo instituto do CTA a se instalar foi o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento – IPD, criado em 26 de novembro de 1953, com o objetivo de estudar os problemas técnicos, econômicos e operacionais relacionados com a aeronáutica, cooperar com a indústria e buscar soluções adequadas às atividades da aviação nacional.
Projetos Históricos
Surge, pois, em 1952, a chance esperada. A COCTA – Comissão de Organização do Centro Técnico de Aeronáutica foi buscar, na Europa, o realizador do 1º helicóptero utilizável, Prof. Dr. Eng. Heinrich Focke, e alguns dos seus principais assessores técnicos, para permitir a criação de um projeto que viesse revolucionar e incrementar, pulando etapas, o setor aeronáutico brasileiro. Esse grupo de técnicos, altamente qualificado, que vinha projetando aeronaves de asas rotativas, na Alemanha, desde 1939, tendo produzido, antes e durante a II Grande Guerra, inúmeros helicópteros de ótimo desempenho, sentiu-se atraído para o nosso país na perspectiva de aqui desenvolver o Convertiplano, concepção de há muito nos planos do Prof. Focke.
O Convertiplano
Focke, entusiasmado pela criação de um centro de ensino e de pesquisa, o único na América do Sul, retornou à Alemanha para organizar sua equipe e voltou ainda naquele ano, desta vez para dar início aos trabalhos do Convertiplano (Heliconair-HC-1), uma aeronave de decolagem vertical, monomotor com quatro rotores, cujos eixos basculavam, convertendo-se em avião convencional, desenvolvendo 500 km/h em voo nivelado.
Para muitos um projeto utópico para a época, o que serviu, por via das dúvidas, de paradigma e de motivação para a criação do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento do CTA – Centro Técnico de Aeronáutica. O centro, ao longo dos anos, modificou sua designação para Centro Técnico Aeroespacial, Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial e, mais recentemente, para Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, tendo seus institutos, os seus dois centros de lançamento de foguetes e um campo de provas, como unidades autônomas e integradas.
Por não haver nenhum país disposto a disponibilizar um motor adequado, o Convertiplano serviu apenas como prova de conceito. Uma maquete desse aparelho pode ser vista no acervo do MAB – Memorial Aeroespacial Brasileiro, aberto à visitação em São José dos Campos, SP.
O Beija-flor
Iniciou-se, por volta de 1954, o projeto Beija-flor, helicóptero de rotor rígido para duas pessoas. A intenção era desenvolver um helicóptero muito simples e industrializá-lo, mesmo antes da conclusão do Convertiplano. O projeto não era convencional, contendo soluções novas, fruto da criatividade do Prof. Focke.
O “BF” (Beija-flor), como ficou conhecido entre os técnicos, cujo protótipo fez seu voo inicial em fevereiro de 1960, apresentava, em comparação aos seus congêneres da época, as vantagens de segurança, facilidade de manejo e simplicidade de construção. Com este voo, algo de importante era marcado no histórico da aeronáutica brasileira, pois tratava-se do primeiro helicóptero projetado e construído no Brasil, por uma equipe mista de técnicos estrangeiros e brasileiros, pertencentes ao Departamento de Aeronaves (PAR), do recém-criado IPD.
O Bandeirante
No dia 26 de outubro de 1968, em cerimônia oficial, no Centro Técnico de Aeronáutica, com a presença do Ministro da Aeronáutica, vários Ministros de Estado, de autoridades civis e militares e cerca de 15 mil pessoas, que afluíram ao Aeroporto de São José dos Campos, foi realizado o voo oficial da aeronave Bandeirante.
Uma exclamação geral elevou-se aos ares, ao serem abertas as portas do hangar X-10 para a saída e apresentação oficial da aeronave, exultando, os presentes, com o avião sendo apresentado sob vários ângulos, em suas voltas pelo pátio do hangar.
O Major Mariotto e o Eng. Michel partem da cabeceira da pista para a realização da primeira decolagem e do primeiro voo oficial do Bandeirante, numa inesquecível demonstração ao País da existência de condições, capacidade e competência na consolidação e progresso da indústria aeronáutica brasileira, efeito do estudo e trabalho de uma equipe de civis e militares irmanados no mesmo ideal de dar asas brasileiras ao Brasil, e o sonho sendo concretizado 20 anos após o início dos trabalhos de construção do CTA.
Com o sucesso do projeto do avião Bandeirante desenvolvido pelo IPD, foi necessária a implantação de uma empresa para fabricá-lo em série. Desta forma, foi criada a EMBRAER – Empresa Brasileira de Aeronáutica. Em consequência, o avião Bandeirante foi um fenomenal sucesso de vendas e operação de transporte regional de passageiros e cargas nos cinco continentes. E como resultado do êxito do produto Bandeirante, a Embraer evoluiu para tornar-se uma das mais respeitadas fabricante de aviões do mundo.