A FAB (Força Aérea Brasileira) anunciou que vai reduzir a encomenda de seu novo cargueiro militar, o KC-390 Millennium, fabricado pela Embraer. Em nota divulgada nesta quarta-feira (26), a instituição informa que os recursos destinados a projetos estratégicos das Forças Armadas foram impactados pela crise financeira causada pela pandemia da Covid-19.
Reportagem publicada pela Folha de São Paulo informa que a Força Aérea deve reduzir a compra para talvez menos de 20 aeronaves. No contrato assinado em 2014, a FAB se comprometia a comprar 28 aviões por R$ 7,2 bilhões (R$ 10,44 bilhões hoje, em valores corrigidos pela inflação)
Leia aqui a reportagem da Folha.
A Força Aérea Brasileira informou que “o objetivo será reduzir o número total de aeronaves entregues, com base no atual contrato, e buscar uma cadência de produção de duas aeronaves por ano, fatores considerados adequados observando-se os aspectos operacionais, logísticos e financeiros.”
De acordo com a Folha, se a medida começar a valer neste ano e o prazo inicial para o fim da encomenda, em 2027, for mantido, a frota pode cair para até 16 aviões.
A Embraer informou que está com todas as suas obrigações contratuais em dia, e reiterou sua capacidade de cumprimento de obrigações futuras.
“Em ocasiões passadas de restrições orçamentárias impostas pela União aos contratos de desenvolvimento e produção do KC-390 Millennium, a Embraer sempre procurou adequar seus recursos com vistas à continuidade deste projeto”, diz trecho da nota enviada pela fabricante ao jornal.
Corte nos investimentos
A produção do KC-390 já sofreu outros impactos decorrentes de problemas orçamentários do governo, como na recessão de 2015-16, quando o programa sofreu atraso, resultando na entrega da primeira aeronave em 2019, quando o cronograma original previa cinco aviões com a FAB.
A FAB colocou, desde 2008, cerca de R$ 5 bilhões (valor sem correção ao longo dos anos) no desenvolvimento do KC-390, que serão reembolsados por pagamento de 3,2% de royalties nas exportações.
De acordo com a Folha, no primeiro ano da gestão Bolsonaro, manobras fiscais permitiram um incremento no nível de investimento a 14,5% do total do gasto, valor que caiu a 7,4% no ano passado. O Ministério da Defesa tentou, sem sucesso, ampliar o orçamento militar de 1,5% do Produto Interno Bruto para 2%.
Programas como o do KC-390 vinham sendo preservados: com R$ 720 milhões pagos em 2020, o cargueiro foi o segundo maior recebedor de recursos de defesa no ano.
Com o bloqueio de R$ 1,4 bilhão do total do gasto militar neste ano, ainda sendo avaliado por programa, a situação ficou complexa. No entanto, a FAB informa em sua nota que manterá a Embraer como sua parceira prioritária, inclusive em novos programas, como o de uma aeronave não-tripulada.