A companhia americana Boeing anunciou, neste sábado (25), que cancelou o acordo de compra da área de aviação comercial da Embraer. O negócio era o maior da história da aviação brasileira e custaria 4,2 bilhões de dólares, aproximadamente R$ 23,49 bilhões, pelo câmbio de ontem. Oficialmente, a empresa apresentou como justificativa que a Embraer não teria cumprido todas as suas obrigações contratuais para executar a separação da sua linha de aviões regionais. Mas, desde ontem, havia notícias que o impacto da crise que atinge a Boeing poderia levar ao fim da compra.
Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer e operações, disse em comunicado da empresa que a Boeing trabalhou diligentemente nos últimos dois anos para concluir a transação com a Embraer. “Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas”.
Ron Epstein, analista do Bank of America Merril Lynch, sugeriu ao jornal Financial Times, em uma reportagem publicada ontem, que a Boeing não teria fôlego para investir este volume de dinheiro em uma aquisição, diante do momento sensível da empresa. “É uma questão de liquidez”, disse. Na sexta-feira, o mercado já ventilava a possibilidade de a companhia americana abandonar o acordo, já que o prazo estabelecido para isto seria à meia-noite. Os reflexos nos preços das ações, que já vinham caindo, começaram a aumentar.
Posição da Embraer
A Embraer se manifestou publicamente sobre o assunto através de nota oficial. Segundo a Folha de S. Paulo – “executivos da empresa afirmam que os detalhes seriam mínimos e a Boeing não renegociou o prazo porque decidiu que a compra não seria viável agora”. Há a hipótese de que a americana evitou, com esta decisão, desembolsar multas contratuais estimadas em US$ 75 milhões (R$ 420 milhões nesta sexta).
Ao Financial Times, a Boeing argumenta que a indústria aerospacial norte-americana precisa de 60 bilhões de dólares de socorro estatal para sobreviver à crise do coronavírus. Com a pandemia, dois terços da frota comercial global estariam parados. “As empresas cancelaram centenas de compras de novos aviões”, informam os repórteres Peggy Hollinger em Londres, Claire Bushey em Chicago e Andres Schipani em São Paulo. A Embraer tinha ações cotadas nos EUA por R$ 109 no final de dezembro. Nesta sexta (24), fechou a R$ 32,50.