Arquivo Associados - Invoz https://invoz.org/associados/ Associação para Promoção Integrada da Cultura, da Educação e do Empreendedorismo Thu, 08 Feb 2024 23:11:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://invoz.org/wp-content/uploads/2020/03/cropped-aviao-ico-32x32.png Arquivo Associados - Invoz https://invoz.org/associados/ 32 32 Manoel de Oliveira – Pequeno Resumo de Minha História https://invoz.org/associados/manoel-de-oliveira-pequeno-resumo-de-minha-historia/ Mon, 05 Feb 2024 20:47:44 +0000 https://invoz.org/?post_type=associados&p=7566 Somente agora, aos 77 anos de idade, casado, com dois filhos e dois netos de 15 anos, já no último quarto de minha existência, e tendo vivido muitas experiências e centenas de lições aprendidas, passo a narrar uma pequena parte desses 28 mil dias de minha jornada. Trata-se da vida daquele que foi um menino […]

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Somente agora, aos 77 anos de idade, casado, com dois filhos e dois netos de 15 anos, já no último quarto de minha existência, e tendo vivido muitas experiências e centenas de lições aprendidas, passo a narrar uma pequena parte desses 28 mil dias de minha jornada.

Trata-se da vida daquele que foi um menino franzino, cheio de sonhos, nascido na cidade de Santa Gertrudes, no interior de Paulo, cujos pais decidiram mudar para a capital quando tinha apenas dois anos de idade.

Uma história comum, que representa a de milhares de brasileiros que buscam evoluir, na esperança de uma vida melhor e mais próspera.

(foto 1 na chegada em São Paulo, em 1947 – Estação da Luz)

Sofri influência marcante de minha avó Cecília, que em 1891 fez parte da enorme massa de italianos que imigraram para o Brasil. Natural de Udine, no norte da Itália, ao chegar no Brasil com os pais foi direto ao interior de São Paulo, para a Fazenda Santa Gertrudes, que deu origem ao nome da cidade. Vovó perdeu um irmão na travessia do Atlântico.

A vó Cecília trabalhou muitos anos na lavoura de café, casou-se com meu avô Manoel Garcia (espanhol, que deu origem ao meu nome) e teve muitos filhos. Minha mãe, Maria de Lourdes, também trabalhou como lavradora na Fazenda Santa Gertrudes, até poucos anos antes de se casar com meu pai Luiz, também operário na cidade.

Minha mãe nunca frequentou escola e meu pai completou apenas os quatro anos do ensino primário.

Ambos lutaram muito para dar aos filhos uma vida digna, em meio às dificuldades de migrantes sem qualificações profissionais que decidiram buscar novos horizontes na capital. Ele foi trabalhar na indústria de construção civil como auxiliar de pedreiro, e ela como ajudante de costuras.

Nossa primeira casa era de madeira, de chão batido, que nos foi oferecida para morar e atuar como guarda da obra de uma vila em construção, com 16 casas, no bairro do Bosque da Saúde, na cidade de São Paulo. O trabalho duro e a dedicação, às vezes até rude, sempre foram a maior característica da educação recebida de meus pais.

Os patrões logo perceberam o potencial de contribuição de meus pais e mandaram construir uma pequena casa de alvenaria, de apenas um quarto e banheiro externo, que servia à nossa família, em troca do trabalho na obra e pela zeladoria da vila. Morei lá por 18 anos, e somente após 15 anos conseguimos comprar uma das casas de dois quartos na própria vila. Sou o primogênito de três irmãos.

Com 12 anos passei no vestibular para cursar o “ginásio” noturno e aos 14 comecei a trabalhar como office-boy. Concluí o ensino médio em 1965, sempre trabalhando durante o dia e frequentando a escola média (então “científico”) no período da noite. Tive a sorte de conviver nessa vila e na escola do bairro com descendentes de japoneses, que constituíam um quarto da minha comunidade. Deles aprendi a importância da disciplina.

(foto 2 – turma do científico noturno)

Meu sonho de criança era ser engenheiro civil, estimulado pelo desejo inconsciente de superar meu pai, operário da construção. Mas, apesar de conquistar por concurso uma bolsa no Cursinho da Escola Politécnica, não foi possível deixar de trabalhar para ajudar a família que crescia. A solução foi me inscrever no concorrido vestibular para a Escola de Aeronáutica (atual Academia da Força Aérea), onde ingressei em 1966, com a idade de 18 anos. Foi aí que se deu a grande virada!

Quando tomei o ônibus do “Expresso Brasileiro” para seguir para a Escola de Aeronáutica, no Rio de Janeiro, tinha a certeza de que minha vida de trabalhador e estudante de baixa renda de cursos noturnos iria certamente mudar. Estava entrando num novo mundo, pleno de oportunidades.

(foto 3 – 1968 – Campo dos Afonsos – Rio de Janeiro)

E assim aconteceu. No início de 1969, ano seguinte ao primeiro voo do avião Bandeirante, e como cadete do quarto ano do Curso de Oficiais Intendentes, a escola me deu a tarefa de entrevistar o então Major Ozires Silva, Chefe do Departamento de Aeronaves do CTA, para falar sobre os planos da criação da EMBRAER.

Os dois dias que passei em São José dos Campos foram de quase deslumbramento por tudo que conheci. Uma bênção! Então pedi ao Major Ozires a oportunidade de estagiar no CTA após concluir o curso de oficiais. Ali tive a primeira lição de meritocracia do nosso grande mestre e mentor. Deveria estar entre os primeiros colocados da turma para conquistar a vaga. E assim foi…

A EMBRAER foi criada em 1969, no mesmo ano em que iniciei o estágio no PAR – Departamento de Aeronaves do CTA. Depois ocupei a chefia da Divisão de Materiais do departamento. Naquele mesmo ano, todos os servidores do PAR foram convidados a fazer parte da nova companhia, exceto eu. Deveria cumprir pelo menos cinco anos de “carência” na FAB antes de deixá-la.

Mesmo assim meu trabalho no CTA era diretamente ligado à Indústria Aeronáutica, pois fiquei responsável pela gestão das aquisições, no país e no exterior, de todos os materiais destinados aos projetos da FAB junto à nascente indústria. Tínhamos então três empresas fornecedoras: a EMBRAER, que fabricava o Bandeirante; a Neiva, que produzia o T25 Universal e o Regente, e a Aerotec, que desenvolvia o treinador Uirapuru. Era uma época de grandes projetos nacionais, impulsionados pela onda desenvolvimentista dos anos 1970.

Nesse período tive a oportunidade e a honra de fazer parte de todas as comissões de acompanhamento de produção e de recebimento das novas aeronaves nacionais da FAB. Foi também nesse período que, em paralelo ao meu trabalho no CTA, frequentei e concluí meu curso de engenharia civil na Universidade de Taubaté, para realizar o velho sonho de honrar meu pai.

Em 1975, cumpridos os cinco anos de carência, fui convidado para trabalhar na EMBRAER e, no mesmo mês, meu chefe direto no CTA me indicou para uma missão de 18 meses nos Estados Unidos, para gerenciar a comissão de compra e revisão dos aviões P16E que operariam na Marinha do Brasil.

Escolhi ir para a EMBRAER, mas a Aeronáutica me convenceu de que seria melhor ter a experiencia no exterior, uma vez que poderia voltar com maior qualificação para o cargo na EMBRAER, quando retornasse.

Bem, na volta, quase dois anos depois, a vaga na EMBRAER já tinha sido preenchida, e mais, fui transferido para o Parque de Material da Aeronáutica em S. Paulo.

Mas não desisti. Optei por continuar morando em São José dos Campos e, diariamente, viajava a São Paulo em ônibus da Pássaro Marron que saía às 05:15 de São José.

No Parque de São Paulo, ganhei muita experiência ocupando a função de Chefe do Escritório de Nacionalização de Produtos Aeronáuticos. Esse escritório deu origem ao atual Centro Logístico da Aeronáutica – CELOG, importante unidade responsável pela nacionalização de materiais aeronáuticos.

Um ano depois recebi novo convite da EMBRAER e, então, reiniciei meu processo de deixar a FAB para servi-la melhor numa fábrica de aviões. Mas, de novo, tive outra surpresa: minha missão no exterior havia sido enquadrada como “curso de aperfeiçoamento” e, portanto, deveria cumprir nova carência de cinco anos!

Foi assim que mantive a rotina de viajar diariamente de São José para São Paulo por dois anos e meio até, enfim, ser liberado para voltar ao CTA, aonde cheguei em tempo de participar da criação de mais uma importante organização: O IFI – Instituto de Fomento e Coordenação Industrial e, em seguida, colaborar com o projeto de desenvolvimento do nosso avião de combate AM-X, desta vez em Roma, na Itália. Foram mais dois anos e meio no exterior, de intenso trabalho no projeto que trouxe uma das mais importantes oportunidades de transferência de tecnologia e de inovação para a EMBRAER. O projeto AM-X significou importante ponto de inflexão para a companhia, tanto no campo da infraestrutura industrial como tecnológica, sem o qual a empresa não teria alcançado o sucesso na sua linha de “regional jets”.

No regresso da Itália, em 1984, minha missão era organizar uma nova estrutura de acompanhamento e controle de projetos e produção no Brasil (GAC), semelhante ao modelo bem-sucedido na Itália.

Agora sim tive a oportunidade de trabalhar na EMBRAER como representante da FAB, apesar de não ser de seu quadro de colaboradores. Gerenciava então o contrato de desenvolvimento e produção mais importante da FAB, o AM-X.

(foto 4 – Linha de produção do AM-X)

Finalmente (ufa!), em 1986, consegui realizar meu maior sonho: ser contratado pela EMBRAER. Deixei a Força Aérea no posto de major.

Trabalhei na companhia por dez anos e, nesse período, pude fazer carreira de Assessor, Gerente e Vice-Presidente de Finanças, após concluir o curso de MBA oferecido pela própria empresa.

Na EMBRAER tive o apoio e a confiança de meus pares e mentores, criando o imenso campo nutritivo de crescimento, no qual pude dar vazão à energia acumulada nos vinte anos de Força Aérea tentando aquela vaga.

Essa força me ajudou muito na condução do processo de reestruturação da companhia até a sua privatização em 1994. Foram mais de mil dias de intenso planejamento e muito estresse, somente superados pelo apoio que recebi de minha equipe de colaboradores e a liderança fantástica de Ozires Silva.

Naquele início da década de 1990, lutávamos fortemente pela sobrevivência da empresa, mergulhada na grave crise econômica que vivia nosso país. A força de trabalho da EMBRAER nesse período teve de ser reduzida a um terço de seu efetivo, e precisamos lançar mão de todos os meios possíveis para manter a empresa viva, em especial o projeto do nosso primeiro jato EMB-145.

Somente a privatização poderia nos salvar. E todos concordam que o sucesso no desenvolvimento do EMB-145, aliado à volta do Eng. Ozires para comandar a empresa em 1992, deu o fôlego necessário à recuperação da companhia, diante da confiança que o Ministério da Aeronáutica tinha nele e no seu time.

Assim, os mil dias prévios à privatização constituíram o período de maior desafio e aprendizado de toda a minha carreira, quando percebi o poder da cooperação e da inteligência coletiva. Vivi a importância da unicidade, da fé e da liderança servidora.

Foram com essas lições que, a partir de 1999, criamos a nossa própria empresa, o Grupo Sygma. E foi com a Sygma que prosperamos e descobrimos a importância de colaborar com a sociedade. De lá surgiram projetos sociais que contribuem até hoje com a nossa cidade e com o país, como o CASD Vestibulares, o Instituto Semear, o movimento “São José 2030” e, mais recentemente, o Instituto INVOZ e o Instituto BrazilsBest.

Agradeço a Deus e à minha família pelo amor recebido. Agradeço aos meus mentores inspiradores, em especial ao Eng. Ozires Silva, que me ensinou a prática das virtudes, entre elas a humildade. Agradeço aos meus amigos, à Força Aérea e à minha querida cidade de São José dos Campos pela oportunidade de crescer, prosperar e devolver um pouco do muito que recebi de meu país.

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Emilio Matsuo – histórias que foram minha inspiração e força! https://invoz.org/associados/emilio-matsuo-historias-que-foram-minha-inspiracao-e-forca/ Fri, 02 Dec 2022 16:21:39 +0000 http://mtadmin Hoje faço somente trabalhos voluntários, procuro devolver para a sociedade um pouco do muito que recebi. Nasci em 12 de setembro de 1952, na Colônia Esperança (colônia de pequenos sitiantes, vindos do Japão), município de Arapongas-PR, onde estudei até o terceiro ano do curso primário.  Prossegui com os estudos até o segundo Colegial na cidade […]

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Hoje faço somente trabalhos voluntários, procuro devolver para a sociedade um pouco do muito que recebi.

Nasci em 12 de setembro de 1952, na Colônia Esperança (colônia de pequenos sitiantes, vindos do Japão), município de Arapongas-PR, onde estudei até o terceiro ano do curso primário. 

Prossegui com os estudos até o segundo Colegial na cidade de Arapongas. Fiz o terceiro Colegial e cursinho em Curitiba-PR, e de lá vim para o ITA cursar Engenharia de Aeronáutica, me formando em 1977. Em 1978, ingressei na Embraer, onde trabalhei por 38 anos e meio e tive o privilégio de contribuir para o desenvolvimento de mais de 30 aeronaves diferentes. 

Hoje faço somente trabalhos voluntários, procurando devolver para a sociedade um pouco do muito que recebi durante minha vida, a começar pela educação de qualidade, sempre em escolas públicas e finalmente no ITA. Gratidão eterna! No ITA, realizei meu sonho de infância: entender por que aquelas máquinas (os DC-3 que faziam a rota Londrina – Maringá – Foz do Iguaçu) voavam, e mais tarde pude ajudar a desenvolver essas maravilhosas máquinas voadoras.

Minha mãe nasceu em Nagasaki (cidade atingida pela Bomba Atômica em 9 de agosto de 1945) e veio para o Brasil em 1929 com 5 anos de idade. Chegando ao Brasil, a família foi diretamente para a fazenda de café em Cambará-PR.

Já adulta, ela conheceu meu pai e se casaram, tendo inicialmente quatro filhos. Contraiu tuberculose e precisou deixar esses filhos pequenos com meu pai e meus avós, indo para Campos do Jordão para se tratar e sobreviver o máximo possível, já que não havia remédio para a cura dessa doença. Lá chegando, grávida do quinto filho, os médicos recomendaram praticar o aborto, pois segundo eles a criança nasceria com a doença e teria poucas chances de sobreviver.

Mamãe, filha de família de católicos praticantes desde o Japão (minha avó materna tinha três irmãos sacerdotes no Japão), e meu pai, convertido ao catolicismo no Brasil (tinha uma irmã freira da congregação da Madre Paulina e um irmão sacerdote Redentorista), jamais aceitariam um aborto. Então, Mamãe preferiu morrer junto com a criança, a abortá-la.

Nessa luta, para não permitir o aborto (não dormia com medo de lhe aplicarem remédio que fizesse mal à criança enquanto dormia), teve ajuda do Padre Vitor de Aparecida (ele visitava os hospitais), que a colocou em um hospital católico, mesmo não tendo vaga. Ficou sobre uma maca por algumas semanas, segura e feliz. Se recuperou, ganhou peso e levou a gestação até o fim. 

Devido ao parto de risco, desceu para São Paulo para ter minha irmã, e só pôde ver a bebê, voltando para Campos do Jordão a fim de continuar o tratamento. Meu pai levou a filha recém-nascida de DC-3 para o Paraná, para ser criada por minha avó junto a outras três irmãs e meu irmão. 

Várias senhoras da Colônia Esperança contavam para nós que minha avó passava, ainda antes de clarear o dia, de sítio em sítio (com minha irmã presa ao peito para mantê-la aquecida no frio inverno do Paraná) à procura de leite de cabra, único que a bebê tolerava! Essa irmã (Cacilda) nasceu sem tuberculose, cresceu sadia, se casou e teve um casal de filhos, ambos médicos (Ana Paula, neurocirurgiã, e Nelsinho, ortopedista). Ao longo dos três anos de tratamento, minha mãe teve oportunidade de ser alfabetizada pela colega de quarto (mãe de Ermírio de Moraes).

Com tenacidade, determinação e muita fé, mamãe conseguiu sobreviver até o descobrimento da cura pela Estreptomicina. Desceu de Campos do Jordão para São José dos Campos, se tratou no Hospital Vicentina Aranha com esse remédio por seis meses, e voltou para cada curada. 

Quando minha mãe chegou em casa no sítio, minha irmã Cacilda, já com mais de dois anos de idade, correu em direção à avó, gritando: Vovó, chegou uma mulher chamada mamãe! 

Teve mais oito filhos, totalizando treze (uma falecida aos seis meses). Fui o terceiro a nascer depois da cura de mamãe, e o oitavo de doze irmãos vivos.

Quando entrei no ITA (em São José dos Campos), em 1973, ela contou toda essa história, e combinamos de ela vir a minha formatura, para visitarmos o Hospital Vicentina Aranha (hoje Parque Vicentina Aranha), onde ela se curou.

Infelizmente, ela faleceu cedo, aos 55 anos, e eu estava começando o primeiro ano profissional no ITA. Foi uma pena!!! Willian, meu irmão caçula,  tinha treze anos, e Carla, quinze. Isso fez com que minha avó tivesse que assumir a casa novamente aos 86 anos de idade, após meses acamada, a ponto de acharmos que ela não iria mais se recuperar. Pois bem, uma semana após a partida de mamãe, ela já estava de pé, comandando a casa, e viveu até 94 anos de idade, quando Willian completou 21 anos. 

Muito provavelmente, essa experiência fez de minha mãe uma pessoa sensível, trabalhadora e que vivia com intensidade cada momento presente, sempre preocupada em ajudar as pessoas ao redor. Me marcou a maneira de tratar os empregados com respeito e alegria, dar e controlar as vacinas dos filhos de colonos e até formar pomar para cada família de colonos.

Meu pai aluno brilhante e esportista: faixa preta de judô e faixa marrom de kendô (luta com espada), era um dos primeiros alunos da escola, segundo minha avó. Após terminar o colegial, queria cursar medicina, porém só poderia continuar caso seu irmão mais velho concordasse, já que esse irmão não pôde continuar os estudos por problema financeiro da família, já sanado quando papai se formou no colégio.  

Quando teve a certeza de que o irmão mais velho não permitiria que continuasse os estudos, disse ao pai não ter mais nada a fazer no Japão, e veio ao Brasil como membro da família do vizinho. Sua vida mudou completamente: de estudante para trabalhador braçal de fazenda, derrubando mato para plantar café.

Foto de meu pai com uniforme de judô e com uniforme do colegial. Na foto menor, a mudança para trabalho braçal, derrubando floresta no machado para plantar café.

Faltando seis meses para completar os dois anos de contrato como empregado da fazenda, mandou carta para a família não vir para cá, pois era um país muito atrasado, com trabalho braçal, e era, portanto, uma fria!

A mensagem demorou tanto, que a família tinha vendido tudo para vir atrás de meu pai, tornando irreversível seu retorno ao Japão. Com o tempo, ele aprendeu a amar esta terra, e sempre falava disso!

Papai gostava tanto de medicina que tinha um livro de anatomia e estudava sozinho, e se tornou o prático da comunidade da Colônia Esperança. Mais tarde, seis netos e três bisnetos realizaram seu sonho, formando-se em medicina.

Por ele não ter podido estudar, a educação tinha se tornado a prioridade número 1 desde que chegou do Japão! Então, seus quatro irmãos mais novos puderam estudar, com esforço e apoio de meu pai. Também para meus irmãos e para mim a educação continuou com prioridade máxima. Para que isso fosse possível, meu pai construiu uma casa na cidade de Arapongas, para onde mudávamos após certa idade, e voltávamos nos fins de semana, feriados e férias para ajudar no sítio, mesmo nas férias da faculdade. 

Como resultado desse esforço, e da ajuda na roça de meu irmão mais velho Francisco (replicando o que fez meu pai com seus irmãos mais novos), cinco irmãs se formaram professoras, dois irmãos em advocacia, três em engenharia e dois em contabilidade. Fui o primeiro a sair de casa para estudar em um centro maior. Para chegar ao nível dos centros maiores, estudei muito! Como diria, estudei até o miolo ficar mole! E para não penalizar a família com gastos muito maiores que outros irmãos, o que me envergonhava, o ITA foi a alternativa escolhida.

Passava as férias na roça, onde sonhava, olhando para o céu, imaginando como o DC-3 conseguia voar. Sonhava até que um avião desses tinha feito um pouso no sítio para eu poder ver! Nessa foto, eu já cursava o ITA.

Após muito esforço, consegui ingressar no ITA. Descobri na prática que entrar nessa escola era muito difícil, e sair formado, mais difícil ainda!

Após formado, meu pai me disse: Emilio, sou da roça, e nunca trabalhei em empresa, então, não posso nem aconselhar. Porém, digo que, se você se sentir e se comportar como um empregado da empresa e não como o dono, você não terá futuro. Se isso acontecer, volte para me ajudar no sítio, pois eu preciso da sua ajuda aqui. 

Com esse conselho em mente, e seguindo meu coração, ingressei na Embraer em 16 de janeiro de 1978, e me aposentei em junho de 2016, após o primeiro voo do KC-390 e, 8 meses depois, primeiro voo do EMBRAER 190 E2. Nesses 38,5 anos tive a felicidade e o privilégio de aprender muito, contribuir para o crescimento profissional da equipe, formar novos líderes e ajudar cada colaborador a realizar seus sonhos. Por fim, pude trabalhar em mais de trinta projetos diferentes, sempre procurando praticar os ensinamentos, cultura e valores aprendidos em casa, no ITA e na Embraer (plantados por nosso mestre Ozires Silva e pioneiros), assumindo também responsabilidade cada vez maior: supervisor, gerente, diretor de engenharia de desenvolvimento, vice-presidente de engenharia, vice-presidente executivo de tecnologia (respondendo diretamente ao CEO), e finalmente vice-presidente e engenheiro chefe. Foram anos de muito aprendizado, companheirismo, alegria, amizade e realizações.

E o incentivo ao estudo se estendia às famílias dos empregados: Quando algum filho de colono precisava estudar, meu pai dispensava do trabalho. De uma família de empregados, saíram Gerente do Bradesco de Ponta Grossa, e Técnico que foi para Curitiba trabalhar na Caterpillar, fazendo carreira, o que deixava meu pai muito feliz. 

Me sinto extremamente grato à minha família, aos professores, aos meus líderes, ao ITA, à Embraer por permitir minha realização plena.

Gratidão também para minha esposa Erica, filhos, genro e noras Claudia/Diogo, Rodrigo/Paula, Eric/Carol e os netos André, Tomás, Renan e Giovana que são a minha vida, a quem dedico este relato.

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Uma história de desafios e superações Mauro Aparecido de Paula Ferreira https://invoz.org/associados/uma-historia-de-desafios-e-superacoes-mauro-aparecido-de-paula-ferreira/ Wed, 23 Nov 2022 19:15:41 +0000 http://mtadmin Meu nome é Mauro Ferreira, sou empresário há 37 anos, minha empresa se chama Globo Usinagem. A Globo presta serviços de usinagem para a Embraer e atua no setor de óleo e gás. Fazemos exportações e temos uma grande habilidade na compra de matéria-prima nacional e importada. Nasci em Santo André no ano de 1959, […]

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Meu nome é Mauro Ferreira, sou empresário há 37 anos, minha empresa se chama Globo Usinagem. A Globo presta serviços de usinagem para a Embraer e atua no setor de óleo e gás. Fazemos exportações e temos uma grande habilidade na compra de matéria-prima nacional e importada.

Nasci em Santo André no ano de 1959, sou o sexto filho dos nove que minha mãe teve. Sou casado, tenho três filhos e duas netas e tenho outro neto a caminho. Tive uma infância agradável e feliz, não deixei me abater por acontecimentos inesperados, brincava como todas as crianças de minha época, com brincadeiras saudáveis e divertidas, que hoje representam saudade de um tempo a que só é possível voltar em nossas memórias.

Minha família era pobre, mas nunca se entregou a pensamentos negativos; por esse motivo, havia alegria, motivação e exemplo na minha casa. Quando eu tinha sete anos de idade, meu pai sofreu um AVC, talvez por excesso de bebida, e ficou doze anos em uma cama sem falar e andar, mexia só o braço esquerdo para pedir alguma coisa. 

Éramos todos menores de idade quando meu pai adoeceu, por isso fomos trabalhar para ajudar a família. Fui engraxar sapatos, e minha mãe, vender flores artificiais, além disso ela tinha a dura rotina de todas as manhãs: tirar meu pai da cama, colocar o velho no sofá, dar comida em sua boca e só então sair para realizar suas vendas. Quando retornava na hora do almoço, preparava uma comida simples mas gostosa e, novamente, dava na boca de meu pai e voltava para a labuta.

Com o passar do tempo fomos crescendo e meus irmãos arrumaram empregos, permitindo a nossa mãe cuidar da casa em tempo integral. Quando voltávamos do trabalho a alegrávamos com histórias engraçadas, algumas piadas, até uma dancinha a gente fazia. Nossa alegria superava as dificuldades.

Minha mãe não sabia ler nem escrever, mas tinha uma percepção muito boa da vida. Seus conselhos eram sempre para não colocar bebida alcoólica na boca, andar em boas companhias, respeitar as pessoas, ter juízo e guardar uma parte do salário para ficar tranquilo no futuro. Ela pegava uma boa parte de meu ganho e me devolvia um pouco, com a promessa de que eu guardaria, e eu seguia sempre suas instruções.

Quando fiz vinte e cinco anos, tinha terminado o colegial, hoje Ensino Médio, fiquei sem rumo sobre o que faria de minha vida. Tinha um emprego de torneiro mecânico graças ao curso que fiz no SENAI, mas não era bem remunerado, trabalhava numa empresa pequena com seis colaboradores, sem perspectivas de crescimento.

Um dia toda a minha vida mudou. Havia um lugar no bairro onde eu e meus amigos nos reuníamos todas as noites de final de semana para jogar conversa fora. Um de meus amigos, que também participava dessas conversas e era pobre como eu, do nada me convidou para abrirmos uma empresa, um convite maluco a princípio. A história é longa, mas vou pular vários capítulos. A probabilidade de algo desse tipo dar certo era mil para um: não tínhamos dinheiro, não sabíamos nada do mundo dos negócios, éramos dois trabalhadores da indústria que sonhavam apenas com a aposentadoria. Passados alguns meses de nossa conversa, resolvi aceitar o desafio. Nem sei por que aceitei.

Eu tinha, na época, uma quantia de sete salários mínimos guardados na poupança, que minha mãe havia me orientado a fazer, meu amigo arrumou a outra parte. A ideia era usar uma garagem da família do Gilberto, hoje meu sócio na empresa.

Partimos para a rua Piratininga no Brás, em São Paulo, para comprar as máquinas já usadas pelas indústrias. Compramos o pior torno que havia na loja. Voltamos para nossa cidade carregando um torno Imor, sem dinheiro no bolso, sem clientes e sem instrução, mas com a consciência de que a história teria que ser escrita por nós. Vou novamente pular várias etapas de nossa luta.

Após um ano de muitas dificuldades, estávamos crescendo. Chamamos um outro amigo para nos ajudar e com isso o serviço foi entrando, porém a competitividade era muito grande e não dava para ganhar dinheiro, só tínhamos dívidas para pagar.

Um dia recebi em nossa empresa uma pessoa que trabalhava para um concorrente. Era um vendedor muito bom, notei, e por isso chamei para trabalhar conosco. Ele aceitou. Depois de algum tempo vendo sua capacidade para o negócio, dei a ele uma missão impossível: queria que nossa empresa fosse fornecedora da Embraer. Aceitou o desafio e, numa tacada de mestre, nos colocou lá dentro.

Para resumir e mostrar que o impossível pode acontecer, fomos reprovados na primeira visita. A empresa não era apresentável, havia infiltração de água nas paredes, um emaranhado de fios por todos os lados. Depois de sermos reprovados, o vendedor convidou o pessoal da Embraer para almoçar. Na volta do almoço ele viu um galpão bonito e disse que a empresa iria se mudar para lá em breve, tinha esquecido de mencionar. O galpão estava aberto e havia algumas pessoas pintando o prédio. Realmente o local estava sendo pintado para locação. Com isso, os auditores da Embraer disseram que a empresa estava aprovada.

Não podemos desistir no primeiro não, as palavras e as ações certas trazem resultados. Imagine a satisfação de termos essa conceituada empresa como cliente! Começamos a investir em pessoas, máquinas mais modernas, mas os resultados financeiros não apareciam. Mudamos a empresa para São José dos Campos para ficar mais próxima da Embraer. Foi para lá uma equipe estratégica, e com isso os resultados começaram a aparecer.

Quando tudo estava começando a entrar nos eixos, veio a queda das Torres gêmeas, no episódio do dia 11 de setembro de 2001. Pensei que fosse o nosso fim. Conseguimos nos levantar novamente. Descobri então que estava na verdadeira escola do empreendedorismo, onde a teoria e a prática não se conversam.

Formei-me em Administração, fiz MBA em gestão empresarial na FGV, mas a escola mais importante de minha vida foram a experiência e os desafios do dia a dia. A vida do empreendedor no Brasil é adrenalina pura. Fui ao fundo do poço por algumas vezes, mas sempre consegui sair. Nesses altos e baixos de minha vida de empresário cheguei à triste situação de ser o pior fornecedor da Embraer. Conseguimos recuperar a excelência, e hoje tenho orgulho em dizer que temos oito prêmios como o melhor fornecedor de usinagem. Além da matriz da Globo Usinagem em São José dos Campos, temos uma filial na cidade de Botucatu (SP).

Como consegui me recuperar? 

Mudança de estratégia: comecei a investir nas pessoas, e contratei profissionais formados em escolas de ponta. Máquinas e equipamentos existem à venda e são iguais em qualquer empresa, mas são as pessoas que fazem a diferença. Não basta treiná-las, elas precisam estar no lugar onde se sentem bem e dão resultados.

Hoje me sinto feliz por chegar aonde cheguei, vencendo todas as adversidades que há no mundo do empreendedorismo. Tenho grande satisfação de ter proporcionado para minha mãe uma vida melhor e de ver seu orgulho com minhas vitórias.

Hoje faço parte do INVOZ, onde todos os participantes semeiam a semente do conhecimento e compartilham suas experiências, transformando em ações para melhorar a vida da sociedade e divulgar a cultura aeroespacial. 

Para terminar, posso deixar sete conselhos para vencer na vida: 

  • Tenha humildade no seu coração. 
  • Nunca pare de buscar o conhecimento. 
  • Invista em seu colaborador sem medo de perdê-lo. 
  • Semeie a boa semente. 
  • Pratique a generosidade. 
  • Desfrute a vida e coma do fruto de seu trabalho. 
  • Seja grato a Deus por tudo. 

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Neide Pereira Pinto – um voo pela minha história https://invoz.org/associados/neide-pereira-pinto-um-voo-pela-minha-historia/ Fri, 28 Oct 2022 19:57:41 +0000 http://mtadmin Nasci sozinha – claro que minha mãe estava presente! Até meu pai selar um cavalo, sair em disparada e retornar com a parteira, eu e minha mãe já tínhamos resolvido a questão. Quando chegaram me encontraram aos berros e nascida. Meu pai nasceu em 1918, e minha mãe, em 1921. Casaram muito novos e tiveram […]

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Nasci sozinha – claro que minha mãe estava presente! Até meu pai selar um cavalo, sair em disparada e retornar com a parteira, eu e minha mãe já tínhamos resolvido a questão. Quando chegaram me encontraram aos berros e nascida.

Meu pai nasceu em 1918, e minha mãe, em 1921. Casaram muito novos e tiveram nove filhos, sendo duas falecidas na chegada ao mundo e uma adotiva. Sou a caçula.

Em uma família com tantos filhos para criar, começamos a trabalhar cedo para ajudar nossos pais. Ninguém tinha privilégios, nem mesmo a caçula, que, normalmente, é a mais mimada. Por isso, aos sete anos tive meu primeiro emprego: trabalhava para meu irmão mais velho. Ajudava a tirar o leite e auxiliava minha cunhada nos serviços da casa.

Meu pai sempre foi uma pessoa empreendedora e criativa. Para o estudo de seus filhos mais velhos, ele construiu uma escola ao lado de nossa casa, legalizou na prefeitura, e trouxe a professora para morar conosco. Dessa forma, meus irmãos estudavam um período e ainda sobrava tempo para o trabalho. Além de minha família, ele deu a oportunidade de estudo para todas as crianças do bairro. A escola existe até hoje próxima ao sítio onde nasci.

Nessa época não existia luz elétrica, a noite era iluminada por lampião ou lamparina. A primeira professora que se hospedou em casa, dona Dora, vivia reclamando porque não conseguia ler à noite. Meu pai pediu para ela comprar um livro sobre usina hidrelétrica. Em pouco tempo, minha família tinha uma usina particular e a casa iluminada. Ele construiu um sistema engenhoso de alavanca para, de nossa casa, abrir e fechar a comporta da usina, que ficava a uns 500 metros de distância.

Movida pela curiosidade sobre a vida além das porteiras do sítio, saí de casa aos onze anos, para morar na cidade e continuar os estudos. Quando concluí o segundo ano do ensino médio, de férias no sítio, recebi a visita de uma amiga e colega de turma. Sua família ia passar uns dias em São José dos Campos para procurar trabalho e escola para os filhos, com a intenção de morar na cidade.

Quando cheguei a São José dos Campos, em 1976, fiquei hospedada em um sítio no bairro do Putim. Para chegar até lá, passava em frente à Embraer. Esse foi meu primeiro contato visual com a empresa. Posso dizer que foi paixão à primeira vista pela Embraer e pelos aviões.

Findos os dias de férias, o balanço foi o seguinte: apenas eu tinha conseguido escola, trabalho e um lugar para morar. A família de minha amiga Luciana voltou para Cunha.

Um passeio de alguns dias transformou-se em mudança definitiva para São José, e trabalhar na Embraer passou a ser meu objetivo.

Seis meses depois de minha chegada, dei o primeiro passo rumo à realização do sonho de trabalhar na Embraer. Fui trabalhar no então Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA), no Departamento de Física. Nesse período iniciei a faculdade de física em Taubaté (SP) e consegui ser a primeira aluna mulher do ITA, oficialmente autorizada a fazer três matérias na cadeira de física.

Não prossegui com a faculdade de física por entender que não era essa minha vocação, apesar de querer ser astrônoma. Resolvi estudar línguas e fazer um curso de secretariado para melhorar meus conhecimentos e o salário na profissão que já exercia. Buscava amadurecimento antes de escolher uma profissão definitiva e também fazer uma poupança para pagar uma boa faculdade.

Deu certo. De minha chegada a São José dos Campos, em 1976, até o dia em que recebi uma ligação do RH da Embraer foram cinco anos.

Até hoje me lembro daquele dia. Trabalhava numa empresa de grande porte quando o telefone tocou e a pessoa se identificou como sendo do setor de RH da Embraer. Nesse momento meu coração acelerou só de pensar que aquela chamada poderia ser a realização de meu sonho.

E era! Após alguns minutos de entrevista em português, inglês e francês, a pessoa, não lembro o nome, disse-me que eu estava aprovada para uma vaga temporária na Embraer, e perguntou se eu trocaria um trabalho fixo por outro que duraria apenas quatro meses, o tempo da licença maternidade da funcionária que ocupava o cargo.

Não tive dúvidas! Imediatamente disse sim e pedi minha demissão.

Quando cheguei para meu primeiro dia de trabalho, para minha surpresa, fiquei sabendo que meu chefe, o Eng. Michel Cury, passaria um mês na França trabalhando na subsidiária EAI.

Como era nova na Embraer e ninguém me conhecia, os primeiros dias foram de apresentações e alertas, principalmente sobre meu futuro chefe. O perfil que me passaram foi preocupante: bravo, exigente, pavio curto, impaciente com perguntas óbvias e assim por diante. A essa altura já estava preocupada se tinha ou não feito uma boa troca. Mas não dava para voltar atrás.

Como sempre digo, tenho um bom anjo da guarda de plantão, e daquela vez não foi diferente. Quem estava substituindo o Eng. Michel em sua ausência era o Eng. Paulo de Machado e Silva Furtado, o Eng. Furtado. Ele era o assessor direto do Eng. Michel, portanto profundo conhecedor do setor e de todos os assuntos da Gerência de Assistência Técnica (COT), além de ser uma pessoa com extrema paciência e boa vontade. Naquele período ele foi, para mim, um professor e um bombeiro.

Professor porque me explicou e ensinou a rotina da gerência; um bombeiro, porque me ajudava a apagar todos os incêndios que o Eng. Michel mandava lá da França. Quando o Eng. Michel retornou, já estava mais segura e isso me ajudou muito. Talvez, se não tivesse feito o estágio com o Eng. Furtado, teria dificuldades para acompanhar seu ritmo acelerado de trabalho e seu brilhante raciocínio.

Meu primeiro aperreio com o Eng. Michel foi para atender um pedido um tanto inusitado, e sem o auxílio do Eng. Furtado, que também não estava na COT. Ele pediu para eu ligar para o Batata e informá-lo de que a aula de ballet estava confirmada, e ele deveria levar a sapatilha cor-de-rosa. Procurei na agenda de telefones e não encontrei nem o Batata, nem o professor de ballet. Perguntei para várias pessoas e ninguém pôde me ajudar porque não sabiam. Por sorte, quando estava quase arrancando os cabelos, chegou o Eng. Furtado, que logo notou minha cara apavorada.

Contei a ele e, em resposta, ouvi uma sonora gargalhada. O Batata era o amigo que jogava tênis com o Eng. Michel, e o professor de ballet era o professor de tênis. Nunca mais esqueci esse fato pelo apuro que passei e também porque plantou uma dúvida quanto ao perfil que tinha construído do Eng. Michel. Talvez ele não fosse tão “fera” assim… Uma pessoa capaz de brincar era um bom sinal.

Aos poucos ganhei sua confiança e me adaptei a seu estilo desafiador. Passei a respeitá-lo em vez de temê-lo, e com isso entramos em sintonia. Posso dizer com toda certeza que aprendi a trabalhar com o Eng. Michel, ou melhor, aprendi a gerenciar e resolver problemas com ele. Sempre me incumbia de alguma missão quase impossível, sem ao menos me perguntar se sabia ou não fazer ou se daria conta de resolver.

Às vezes, quando atravessava minha sala para entrar na dele, me pedia para fazer um relatório sobre um problema técnico que tinha acontecido na aeronave de algum operador da França e acrescentava, com muita naturalidade, que era para fazer em português e em francês. Dizia que precisava do relatório para o dia seguinte e entrava como se nada tivesse acontecido e me pedia um café.

No dia seguinte, quando levava o relatório para ele assinar, não lia, não perguntava como eu tinha conseguido fazer, simplesmente assinava e pedia para eu enviar para o operador. Este era seu estilo de trabalhar: confiança total, mas implacável com os erros.

Ainda tenho viva na memória a primeira e única bronca que levei do Eng. Michel. Era de minha responsabilidade fazer o pagamento das faturas de combustível das aeronaves e alocar as despesas no centro de custo da Seção de Operações. Nesse dia troquei o centro de custo, nada muito grave, mas a bronca foi para nunca mais cometer outro erro.

Quando venceu o tempo da licença maternidade de Toninha, ela decidiu não voltar para seu posto na Embraer. Com isso tive a chance de concorrer à vaga juntamente com as demais secretárias que também postulavam ao cargo.

Para ser totalmente isento, o Eng. Michel não participou do processo seletivo, delegou a função ao Eng. Garcez. Fui a selecionada e, com isso, tive a oportunidade de trabalhar com ele até sua transferência para a subsidiária da França.

Em seu retorno para o Brasil como Diretor Comercial, em 1992, mesmo estando em outro setor, às vezes ele me chamava para fazer algum trabalho. Com isso, mantivemos o contato e a amizade.

Profissionalmente o Eng. Michel não era de longos discursos ou de grandes teorias, era muito objetivo em suas colocações e decisões. Transmitia segurança para as pessoas que trabalhavam com ele, as quais, assim como eu, transformavam a primeira impressão de uma pessoa rigorosa para o respeito a um profissional altamente qualificado e que amava o que fazia. Trabalhar com o Eng. Michel foi um desafio gratificante e um aprendizado muito grande. Continuei na Assistência Técnica trabalhando com o Eng. Furtado, que foi promovido ao cargo de gerente. Outra pessoa espetacular, com quem também aprendi muito, principalmente a ter calma e tranquilidade para enfrentar as situações difíceis.

Nessa época já me sentia madura para pensar em minha formação. Escolher a arquitetura foi prevalência do DNA de meu pai, que projetou e construiu muitas casas durante sua vida, mesmo nunca tendo estudado.

Antes mesmo de me formar em arquitetura, fui convidada pelo Mário Galvão para trabalhar na área de comunicação e aproveitar parte do meu TCC (Trabalho para Conclusão de Curso) e fazer o primeiro Centro Histórico da Embraer e o Parque Aeroespacial do SESI Ozires Silva de São José dos Campos.

Assim que me formei, fui transferida para a área de Engenharia de Fábrica, setor responsável pelos projetos e manutenção dos prédios da Embraer. Fui trabalhar com o Eng. Quintino. Trabalhei muito tempo no desenvolvimento de layouts dos escritórios e dos hangares de produção de aeronaves.

Quando tudo parecia às mil maravilhas e minha vida estabilizada, a crise bateu às portas da Embraer. A empresa foi privatizada, e muitas pessoas, demitidas. Saí em 1996 para abrir uma empresa de arquitetura e continuar a fazer meu trabalho, agora como empresa prestadora de serviços.

No início, além da Embraer, fui chamada pela Infraero Brasília, onde meu antigo chefe Mário Galvão estava trabalhando, para desenvolver projeto e fazer a implantação de Centros Culturais nos aeroportos da rede e reativar a revista de história em quadrinhos Aerogibi, que tinha criado junto com o projeto do Parque Aeroespacial do SESI.

Durante os dez anos de prestação de serviço para a Embraer, a Somos Editora ganhou vida e, em paralelo ao trabalho de arquitetura, publicou vários livros nos segmentos de história, cultura, meio ambiente e educação para o trânsito. Após encerrar o contrato com a Embraer da empresa de arquitetura, mantive a parceria ativa com a Somos Editora, para publicar livros sobre aviação.

Além do trabalho profissional, gosto do voluntariado. Considero que sou uma pessoa privilegiada e que o plano espiritual abriu muitas portas para mim, então tenho que retribuir todas as graças recebidas de alguma forma.

Minha estreia foi no Hospital Francisca Júlia em 1982. Depois do primeiro trabalho realizado, nunca mais saí de lá. Luiz Peagno, diretor do FJ, sempre diz que tem um quarto especialmente reservado para mim. Confesso que não faço questão dessa retribuição.

Estive como diretora cultural na APVE – Associação dos Pioneiros e Veteranos da Embraer durante oito anos, e agora, no INVOZ, como diretora-presidente.

Exceto o trabalho de arquitetura e de editora que faço para o Francisca Júlia, toda minha trajetória profissional e pessoal sempre esteve ligada ao avião e à Embraer. Costumo dizer que saí da Embraer, mas a Embraer e o avião nunca saíram de mim desde minha chegada, por acaso, a São José em 1976.

Tenho orgulho da vida que vivi e ainda vou viver, porque meu espelho sempre foi minha família, principalmente meus pais. Pessoas simples que souberam criar seus filhos dando exemplos práticos de honestidade, ética e respeito ao próximo. Tenho orgulho dos bons amigos que encontrei em minha trajetória. Tenho orgulho da relação de amor e parceria com o Sergio, que consegue dividir sua vida comigo em harmonia.

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Spiro, um salto na história! https://invoz.org/associados/spiro-um-salto-na-historia/ Tue, 11 Oct 2022 13:35:40 +0000 http://mtadmin Escrever sobre si mesmo não é uma tarefa fácil. Tentar impregnar o texto com o sentir íntimo da gente também é difícil, mas vou tentar. Nasci e me criei no Líbano. O inglês era meu terceiro idioma. O árabe e o francês, os dois primeiros. Sempre fui fascinado por aeronaves e queria saber como funcionavam, […]

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Escrever sobre si mesmo não é uma tarefa fácil. Tentar impregnar o texto com o sentir íntimo da gente também é difícil, mas vou tentar.

Nasci e me criei no Líbano. O inglês era meu terceiro idioma. O árabe e o francês, os dois primeiros.

Sempre fui fascinado por aeronaves e queria saber como funcionavam, desde que meu tio nos levou, eu e meu irmão gêmeo, para o aeroporto novo de Bir Hassan, em Beirute, para ver um DC-3 pousando.

Meu pai era contador. Ele e seus irmãos, ainda muito jovens, tiveram de largar os estudos para sustentar a família. Com bastante sacrifício, proporcionou minha ida para a Escócia, onde me formei no que se chamava, no Reino Unido, de “Aircraft Maintenance Engineer”.

Com 18 anos de idade, em 1960, desembarquei primeiro em Londres e depois em Glasgow, a caminho de Perth. O pernoite em Glasgow foi revelador; comecei a ter dúvidas sobre o idioma que aprendi, pois o escocês falava um jargão totalmente estranho para mim.

No dia seguinte cheguei de trem a Perth, rumo à escola de pilotos e mecânicos onde iria estudar. Lá deparei com estudantes de várias nacionalidades, com quem compartilharia os próximos anos de estudo. O ano letivo  durava 11 meses, com presença comprovada de 90% para obter o diploma e a licença oficial do CAA. Metade do dia era de aulas teóricas, e a outra metade, práticas.

Durante o segundo ano, uma aeronave da escola se acidentou, e o investigador chefe do ministério me escolheu para assisti-lo nos trabalhos.

Após a formatura no início de 1963, voltei para o Líbano, onde trabalhei durante 13 anos na MEA, empresa aérea libanesa, em vários setores, como manutenção, sistemas, ensaios e suprimentos técnicos. Em 1971 me casei com uma brasileira e moramos em Beirute até 1976, quando decidimos emigrar para o Brasil por causa da guerra civil.

Cheguei ao Brasil com 13 anos de experiência, três idiomas e nenhum deles o português. Confesso que procurar emprego foi uma tarefa difícil e frustrante, até que meu currículo foi cair na mesa do Eng. Ozires Silva. Fui aceito na Assistência Técnica da Embraer para apoiar os primeiros Bandeirantes e Xingus exportados ao redor do mundo.

Em 1982, migrei para a Pratt & Whitney, fabricante de motores, onde fiquei no apoio à Embraer e a outros operadores na América do Sul até o ano 2000.

Tive de aprender português rapidamente. Devo dizer que a necessidade e o conhecimento do francês me ajudaram bastante. Tínhamos clientes europeus, e como poucas pessoas na época falavam outros idiomas, esse era meu grande diferencial.

Lembro-me de que era solicitado para atender todas as ligações dos clientes da França ou da Inglaterra. Ajudava desde o treinamento até a entrega e pós-entrega das aeronaves para as ilhas Fiji, Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra e Bélgica. A tarefa principal era atuar como ligação entre o cliente e a Embraer para resolver problemas de logística, manutenção e operação.

Na Bélgica ficamos durante 7 meses apoiando três aeronaves Xingu, vendidas para a escola de Pilotos da Aviação Civil. Foi ali que uma visita do Eng. Ozires me marcou muito. Assim que entrou numa sala repleta de executivos que o aguardavam, olhou para mim e veio diretamente falar comigo: “…nossa, que bom te encontrar”. Deu-me de presente uma sacola cheia de revistas compradas na livraria LaSelva de São Paulo e disse: “trouxe isso para sua esposa que está longe de casa, ela deve querer notícias do Brasil”.

Foram muitos os episódios inusitados durante essa jornada. Em Fiji, assim que as aeronaves pousaram, havia uma comitiva de recepção do governo junto conosco, e ninguém chegou perto dos aviões até que fosse feito um ritual chamado “Kava Ceremony” para afastar os maus espíritos. Só como informação, o fuso horário tinha uma defasagem de 11 horas e, na época, um dos meios de comunicação era o fax.

Certa vez uma delegação da Força Aérea do Iraque visitou a Embraer e, em seguida, foi a Brasília, a fim de assistir a uma palestra do EMFA. Fui convocado para fazer a tradução simultânea da palestra do idioma português para o inglês. Não tinha nenhum preparo para tradução simultânea, mas obtive êxito total na tarefa.

O que tenho a dizer para a juventude de hoje: invista em sua educação, esse é um capital que você carrega junto e que ninguém pode tirar de você. Sonhe alto, seja persistente e acredite em si mesmo. Seus esforços serão recompensados. Hoje, com 81 anos, olho para trás e vejo que tudo não passou de um piscar de olhos.

Outro aspecto que gostaria de acrescentar foi o apoio irrestrito de minha esposa Tania em toda essa jornada. Ela nunca reclamou de tantas viagens e tantas mudanças. Seu apoio foi primordial no sucesso das missões de assistência técnica que realizei ao redor do mundo.

Jovem Aprendiz na Escócia

Recém-chegados em 1976 em uma festa árabe em São Paulo

Na Escócia

Com Tania, minha esposa há 50 anos, em São José dos Campos

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